sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Entre Trópicos



Um cavalete. Nele, a última tela. A palheta com os restos de tinta. A solidão. A casa vazia. Nenhum móvel mais. Do lado de fora a paisagem. Um pincel. Um único pincel. Arrisco os primeiros traços de cor azul. Minha cor predileta. Um som ecoa em minha cabeça. Um som doce, alegre, com timbres que me arrepiam. É como música que me encanta e me faz dançar pelo espaço vazio. A brisa que entra pela janela traz um cheiro que me remete muita alegria. Danço. Aquele momento é meu, somente meu. Danço. Outros traços ocupam o espaço vazio. Da tela. Minha dança cria um mosaico de cores em seus últimos tons. Um tom acima. Danço. Fecho os olhos no desenrolar dos passos. Lembro-me de uma tarde doce em Ipanema. Uma noite doce em Ipanema. Uma manhã doce em Ipanema. E outra. E outras. Em ritmo acelerado as cores se misturam e ocupam, formam, por si, um quebra-cabeça. Parte por parte, em ritmo acelerado, meu corpo dança como as folhas da copa frondosa do lado de fora. Inspiro. O cheiro ainda me inebria. Sinto-me cheio. A tela está cheia. Já não uso o pincel. As mãos tocam cores e formam sorrisos. Te vejo. A dança, que já era inteira, se faz plena.  Já não está longe. Já não falta. Dança de par. Dois. Mesmo que em restos de tinta ainda fresca, te recrio em cada canto de qualquer sombra, de qualquer não-solidão. Fecho a janela. Abro a porta e saio. Te levo comigo pra um outro lugar qualquer. Azul.

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